terça-feira, 2 de maio de 2017

Projeção astral.

Então, estava lá na sala, com mais pessoas que não cheguei a reparar, pareciam seus familiares, você me olhando de canto de olho, tentando me fazer te ver, implorando por dois minutos de conversa e de atenção.
Me preocupei em trocar de roupa, parecia 2014, eu estava mais magra mas já não tão preocupada com a aparência da forma que acontece hoje em dia. A emoção era grande, mista, de difícil  identificação. E eu estava lá, fui tentar manter a amizade. Então as pessoas que te acompanhavam saíram, menos você, ainda podia ver outras pessoas na casa, mas não eram as mesmas que te acompanhavam. Cheguei perto de você tentando uma conversa aleatória, e pra minha surpresa você começou a chorar, chorar muito, muitas lágrimas vertiam da sua vista; minha reação não foi outra, te abracei muito forte, entrei num transe profundo, sentia a força do abraço, dos nossos braços, sentia seus braços envoltos na minha cintura, sentia minhas mãos espalmadas nas suas costas, sentia as suas lagrimas caírem nos meus ombros. Você não quis falar uma palavra, eu perguntei o que estava acontecendo e por que você não estava bem emocionalmente, mas você não falou, só permaneceu no abraço por um tempo, quieto, deixando as lagrimas caírem. Então depois de pelo menos 5 minutos uma pessoa aleatória que estava na casa tenta te falar alguma coisa engraçada para ver seu choro cessar. Nesse momento você me fala que precisa ir embora, eu te acompanho até o portão te falando coisas genéricas do tipo "eu estou aqui", "me procure se precisar conversar", "sempre serei sua amiga" etc. Chegando no portão da rua você me pede outro abraço, então nos abraçamos e a sensação de realidade invade novamente, dessa vez além da força do abraço posso sentir seu perfume, a textura do cabelo, sinto até sua respiração, você me beija a bochecha e então nos soltamos, você ainda permanece por segundos parado na minha frente, sem ter certeza que precisa ir embora, mas vai, se despede, agradece e vai embora.
Tudo acabou aí, voltei da viagem astral e em seguida acordei normalmente, sem a paralisia do sono que costumo ter no horário de acordar, e sempre com aquela duvida "será que isso aconteceu mesmo ou foi apenas um sonho muito realista?"

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Óculos rosa da nostalgia

Se no passado fui boba, ( uma palavra bonita para o que realmente fomos) hoje sou niilista
Morreu em mim: toda duvida, todo sentido, os princípios absolutos se dissolveram ainda mais, tudo agora é posto em discussão antes de qualquer atitude. Morreu a esperança de dias melhores, de humanidade evoluída, morreu a reciproca compaixão na sociedade.
O que resta dos anos passados e da juventude é a nostalgia que hoje deixa tudo muito bonito e brilhoso, até parece que não nos magoamos, que não nos submetemos, que não suportamos dor alguma... Os sorrisos da época hoje me parecem reais, os planinhos mirabolantes hoje parecem molecagem, as opiniões defendidas hoje parecem piada.
Não escolhemos o que queremos da vida mas nos tornamos responsáveis por quem somos hoje. Enquanto você cresceu, largou a faculdade, foi levado pelos homens de farda para lutar pelos EUA e explodir bombas no Japão e voltou para matar um leão por dia e por comida na boca de seus filhos e sua esposa eu estava assistindo Casablanca, estava lendo Agatha Christie, estava conversando sobre Camus, Beauvoir e Sartre com a nova turma dos anos 40/50
O tempo é implacável... E mesmo assim existem coisas que simplesmente não superamos; não conseguimos, e vez ou outra, uma vez ao ano as vezes até mais, elas resurgem nós deixando com aquele sabor amargo na boca que aos poucos vai ficando rosa e doce, as lembraças vão ficando mornas e inocentes, aquecendo o coração e nos levando por um breve instante a um lugar muito feliz que nos pertence pois já foi nosso em algum momento do passado. 
É tão fácil para quem tem memória e tão difícil para quem tem coração, a vida segue e o mundo corrói nossa esperança, só nos resta estes momentos nostálgicos que nos proporcionam quem sabe a força essencial para continuar.