terça-feira, 5 de julho de 2016

Eremita

Estou cada vez mais afastada e cada vez mais próxima de algo que desejei a quatro anos atrás: "eremitismo".
Estou cada vez mais desajustada nesta sociedade perfeitamente ajustada mas que no fundo está doente.
Cada vez mais distante destes ridículos que se dizem humanos... Que piada, essa "humanidade" deixou de ser humana faz tempo!
Não é questão de certo ou errado, é questão de ser.
É questão de não acreditar; de não sentir-se confortável nessas relações padrões e vazias.
Era trabalhoso demais manter relações, elas eram fracas mesmo depois de anos de dedicação.
Os poucos que restaram eu abri mão bem tranquilamente, sem peso algum na consciência pois não deixavam de ser relações de aparência.
Insistir na humanidade, na amizade e no afeto é cansativo demais quando vem somente de uma parte, mais fácil e mais sadio é ser/tornar-se um ermitão.

sábado, 18 de junho de 2016

Não existe nada além do presente.

Hoje completam três anos de algo que deveria estar completando mais tempo. Não digo que me lembro de tudo daquele dia pois eu fiz questão de esquecer, mas lembro que na época eu disse alto e com todas as letras "EU ME ARREPENDI!". O arrependimento era específico, eu queria voltar atrás, queria concertar os "erros", queria de volta a vida escrota que levava ao lado do escroto q ele era/foi/é/será. Volto a lembrar agora anos depois e posso afirmar, realmente eu me arrependi... Me arrependi de ter deixado tanta coisa passar, me arrependi de não ter acabado com tudo muito antes, me arrependi de aceitar de boa abuso e descaso com meus sentimentos. Hoje eu lembro com pesar da época dura que vivi sozinha e fico feliz de não ter acabado de forma drástica, o que poderia ter acontecido fácil visto que eu estava com o peito em frangalhos e dominada pelo ódio. Hoje eu sei o que é paz, tranquilidade, companheirismo e amor. A dor desmistifica muitos sentimentos e hoje sou capaz de amar de verdade, eu escolhi o amor, sou capaz de valorizar os sentimentos e reconhecer a importância de quem está ao meu lado e me aceita exatamente do jeito que sou. Eu evolui, eu estou evoluindo, o passado está lá ao mesmo tempo que não existe, me conforta saber o quão distante se encontra... e enquanto ele vai passando eu vou evoluindo.

terça-feira, 1 de março de 2016

Patologia.

Em meados de 2009 algo despertou a percepção do nível de ansiedade, que era crítico, do qual sofria.
Comecei achando que era somente uma paixão que batia de frente com meus ideais e princípios, os quais defendi por tempos. Fui forte e aguentei os sintomas chatos, só desisti ao perceber que em 10 chances, mesmo acertando em 9 vezes, no único erro é que eu teria o 'couro arrancado'. Eu deixei de resistir quando percebi que consumar o ato seria indiferente para todos, salvo única excessão, que era eu mesma.
Não sei como considerei um incômodo tão intenso normal. Dores no estômago, dores de cabeça, mãos frias e suadas, vômito, tremor pelo corpo todo, desespero em comer na tentativa de preencher "buracos" interiores; todos esses sintomas em escala catastrófica. Claro que ninguém ligava, nem eu conseguia entender direito o que estava acontecendo.
O que estraga a vida é a expectativa. Somos otimistas e temos planos perfeitos em nossas mentes, mas no momento que é "pra valer" não temos controle de absolutamente nada.
Ruim não é quando as coisas acontecem diferentes do planejado, ruim é o próprio planejar.
Pra quem sofre com a ansiedade qualquer expectativa é um golpe, qualquer esperança é uma tortura, qualquer planejamento pode ativar as sensações chatas.
De um jeito ou outro vivemos, sobrevivemos, subvertemos as regras pra menos sofrer, e tentamos ignorar abruptamente quem não consegue entender ou sensibilizar-se. De um jeito ou outro da-se um jeito.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O dia que deixei de ser trouxa

Lembro claramente o dia que resolvi deixar de atuar no papel de trouxa. Era dia 08/12/2013 por volta das 04:35 da madrugada. Ao fundo a trilha sonora era qualquer musica brega/de corno que não lembro exatamente. Até aquele momento estava interpretando o papel a quase um ano, e ainda não tinha percebido. Todos me olhavam com aquele olhar de "pobrezinha, tão trouxa a coitada" mas ninguém teve a boa vontade de me convidar a me retirar da peça.
Era incrível o espetáculo de forma geral (no sentido 'difícil de acreditar'), um show de horrores envolvendo muita hipocrisia, incontáveis mentiras, pessoas tratando seus desejos com impulsos mais fortes que os vistos entre animais selvagens, nenhum bom senso e nenhuma compaixão. Era uma carnificina canibalística velada, onde era permitido uns comerem aos outros sem nada mais importar e quase sem autorização.
Naquele fatídico dia resolvi sair de cena, ficar nos bastidores só observando; por alguns meses deixei de aparecer nos espetáculos da vida real, deixei vários outros artistas do dia a dia surpresos e se perguntando por onde eu andava.
" Ela faz falta, me sentia menos trouxa com ela por perto" comentavam entre eles enquanto eu tentava me encaixar em outras cenas, outros papéis.
Voltei ao show business como roteirista, qualquer coisa é melhor do que viver na pele da trouxa. Hoje eu apenas escrevo, interpreta quem quer, quem não quer se retire e procure a concorrência. Não tolero selvageria no meu texto, nem faço a maldade de presentear quem não me acrescenta em nada com o papel de trouxa. E assim se vão os anos, tentando deixar pra trás esse horrorshow que participei por algum tempo sem ao menos ter a chance de entender direito o que estava acontecendo.

Alice F.