quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Conversas IV

Essa parte nem é um diálogo, é uma parte da narrativa mesmo, mas não vi problemas em publicar.


Por algum motivo desconhecido acordará totalmente desanimada com a vida. Sentia um misto de saudade e desapego; o ódio que lhe acompanhará diariamente nos últimos meses parece ter brotado ainda mais vivo nessa manhã clara. O sol lhe clareava as vistas, o que a fez acordar com enjoo, entre suas muitas manias, essa era uma das mais esquisitas, sentir enjoo da claridade, e era assim, que ela percebia que não era o ódio que lhe dominara, ela ainda era muito covarde para assumir que odiava demais para seu tamanho, o que sentira era apenas o enjoo da claridade. Depois de aprontar-se, fumou seu cigarro matinal e tomou seu café amanhecido. Antes de sair, olhou fotos, ouviu aquela música francesa que falava sobre o fim esperado e o rumo que cada parte do casal iria tomar desde então. O passo apressado para não perder o ônibus era comum, perder a concentração no livro toda vez que a gravação anunciava a próxima parada era comum também. Pela quarta vez estava lendo "Le nauseé" de Jean-Paul Sartre, dizia tirar aprendizados diferentes do livro cada vez que o lia. Que aprendizados ? O que de bom pode-se tirar de um romance tão popular, tão urbano ? Talvez para uma pessoa comum, nada, mas para ela, com sua mente tão produtiva, com seus devaneios tão transparentes, até mesmo uma palavra desconhecida ou um ponto de inspiração era aprendizado. 
  Durante o trajeto casa-faculdade existem pontos estratégicos; pontos que Sophia olha e lembra-se de muitas coisas, tenta revive-las em vãos momentos, imagina muito mais do que viveu, imagina o que poderia viver, mesmo que isso seja tolice, sente-se bem por alguns instantes, e depois desperta, pois o imaginário não lhe agrada por completo, e o mundo real é muito maior.
(...)

Um comentário:

  1. "depois desperta, pois o imaginário não lhe agrada por completo, e o mundo real é muito maior."
    sim, o mundo real é muito maior, e com tudo que ele pode proporcionar é que nós verdadeiramente vivemos.

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